A Baleia (The Whale, 2022), atualmente disponível na Netflix (não sei até quando), representa um marco para Brendan Fraser, que se reergueu após um tempo de vacas magras na carreira e venceu o Oscar de Melhor Ator em 2023 pelo filme; mas também é uma ótima produção para o espectador extrair uma singela manifestação artística a partir da direção de Darren Aronofsky (o mesmo de Mãe! e Cisne Negro). Neste “Final Explicado”, convidamos você, leitor, a embarcar junto nesta incrível viagem em busca de redenção para um personagem quebrado, eliminando falsas adiposidades (gorduras) da produção.
Mas do que se trata o filme dirigido por Darren Aronofsky?
Como a grande maioria dos filmes do diretor, A Baleia é uma verdadeira pedrada emocional para quem assiste, sendo, inclusive, digno de elogios o modo ao qual Darren Aronofsky consegue nos submeter a esses sentimentos seguindo sempre na linha do drama, sem apelar para exposições baratas.
A história dá conta de Charlie, um professor de redação com severa obesidade que chega num estado crítico de saúde. Seu peso mórbido chegou a números elevados muito por conta do sentimento de culpa por ter abandonado sua filha, Ellie (Sadie Sink), e também pelo marido que tirou a própria vida. Seu objetivo, então, passa a ser conseguir uma reconexão com a filha, hoje uma jovem extremamente revoltada e magoada.
É aí que mora o grande desafio de Charlie: como pode ele alcançar o perdão pelo que fez com a filha? A princípio, parece uma tarefa impossível, mas, mesmo com toda sua condição adversa e o tempo em seu desfavor, o personagem de Fraser sabe que isso só será possível através de uma genuína conexão entre eles, e isso passa por Ellie enxergar o quão incrível e boa pessoa ela é. É aí que entra Moby Dick…

Afinal, qual o papel de Moby Dick no longa de 2022?
A obsessão de Charlie por um ensaio sobre Moby Dick (obra lançada em 1851 por Herman Melville) pauta o filme desde o início, chegando ao grande ápice no final quando descobrimos se tratar de uma redação escrita por Ellie ainda criança. Todo o envolvimento de Moby Dick no filme, então, se torna crucial por três principais razões:
- A Baleia como metáfora: assim como a criatura na obra de Melville, Charlie é visto pela sociedade como um ser monstruoso tendo suas emoções desconsideradas pelas pessoas, mas ao fundo trata-se de um indivíduo repleto de emoções. No entanto, podemos dizer também que há um pouco de capitão Ahab em Charlie, uma vez que o protagonista está obcecado não com a vingança, mas sim com sua redenção antes de morrer;
- A redação de Ellie: o motivo de Charlie valorizar tanto o ensaio da filha sobre Moby Dick mora no fato dele considerar o texto uma forma simples, honesta e genuína manifestação do pensamento – e isso o emociona pois trata-se de um vislumbre do quão incrível a garota é e pode ser.
- A liberdade pelo mar: quando ao final Charlie caminha em direção a Ellie, temos o surgimento de uma luz branca e o som do mar, remetendo à lembrança do personagem sobre um momento muito especial do passado vivido. Essa cena indica que o protagonista encontrou não só a paz mas também sua liberdade através do mar.
Por que Charlie (Brendan Fraser) alimenta o pássaro na janela?
Mais um curioso detalhe é o pássaro que o protagonista de A Baleia alimenta do lado de fora do seu apartamento. Mas por que ele faz isso, sendo que praticamente tudo ao seu redor está sendo negligenciado?
A necessidade de cuidar de alguma coisa pode ser uma boa resposta, até porque, ao longo do filme, vamos que mesmo em todo o seu rancor, a jovem Ellie possui alguns traços de bondade também. Alimentar o pássaro então seria um reflexo do desejo de Charlie reestabelecer a boa relação com a filha. Ao mesmo tempo, por vezes os pássaros são considerados criaturas frágeis, e esse cuidado seria uma manifestação dele querendo dizer ao mundo como ele gostaria de ser tratado, pois também é um ser com suas fragilidades apesar de tudo.
Além disso, pássaros são associados a temas como esperança e redenção – assuntos que permeiam The Whale de cabo a rabo. Por fim, cuidar do pássaro acaba sendo o último elo de Charlie com o mundo exterior, uma vez que o longa se passa majoritariamente em seu apartamento, que possui ares claustrofóbicos tal qual uma prisão.
O missionário Thomas e a derrota da religião em The Whale
Em diversos momentos de A Baleia, temos o missionário Thomas (Ty Simpkins) tentando converter Charlie à palavra de Deus, pois julga ser esse o único caminho para o protagonista atingir sua mais plena redenção. O que acontece entre eles na verdade é um cabo de guerra, uma disputa para ver quem tem a razão. Mas engana-se quem pensa que o embate fosse religião vs. ateísmo: o que Charlie julga ser a sua verdadeira e única salvação é, na realidade, a reaproximação com a filha. Dentro dessa vertente prevalece então duas respostas:
- A prova de que Thomas está errado se dá através de Ellie, que consegue extrair o segredo de que o garoto é na verdade um fugitivo de sua igreja, tendo roubado uma significativa quantia em dinheiro e não retorna para a casa dos pais por presumir que não será aceito depois de seu crime. Ao saber que seus pais o perdoaram e apenas o querem de volta em casa, fica evidente que o componente religiosa está em segundo plano ao que é o verdadeiro amor dos pais, ansiando pelo retorno do filho desaparecido;
- Além desse caso mostrar que Ellie é uma filha incrível, ainda que muito magoada pelo abandono, o protagonista reafirma sua razão pois Thomas, que inutilmente quer converter Charlie (mesmo depois dele ser exposto como um falso missionário), só obteve a sua salvação justamente pela reconexão com os pais – maior objeto de desejo do personagem principal.

Final Explicado de A Baleia: Charlie realmente morreu?
Aos mais esperançosos de plantão, fica difícil afirmar que Charlie tenha sobrevivido ao final do filme, por mais que não tenhamos visto ele morrer de fato ou mesmo que Ellie tenha sugerido que ele pudesse ser submetido a algum tipo de cirurgia. O fato é que a condição cardíaca adversa da qual o personagem se encontrava era considerada irreversível, e a já citada cena no final quando temos uma luz branca (forte sinal de ambientação pós-vida) acompanhada do som do mar indica que Charlie foi mesmo dessa pra melhor. O lado bom disso tudo é que ele conseguiu a sua tão almejada redenção, pois é no mesmo momento que somos cientificados a respeito da redação de Ellie.
Onde assistir A Baleia? Tem na Netflix?
Atualmente, e não sabemos exatamente até quando, os assinantes do serviço Netflix podem assistir A Baleia. Infelizmente, produções que não são originais da rede de streaming podem sair e voltar à plataforma ao sabor da demanda e outros fatores determinados pelo algoritmo. Sendo assim, se você tem apenas esse serviço como assinatura, recomendamos que assista A Baleia na Netflix o quanto antes, e não deixe de ler a nossa crítica neste link.