Em sua coleção de personagens em busca de redenção, diretor eleva também o grande ator que Brendan Fraser é
Os filmes de Darren Aronofsky costumam demorar um bom tempo para chegarem aos cinemas, mas quando isso acontece, quase sempre é como uma pedrada: produções emocionalmente intensas tanto na estética quanto nos diálogos, sendo essas conversas manifestações de personagens quebrados em busca de algum tipo de redenção. A Baleia (The Whale, 2022) é uma reafirmação disso tudo, estendendo dessa vez o efeito para o ator Brendan Fraser (A Múmia, Crash: No Limite) como protagonista.
Temos em tela Charlie (Fraser), um recluso professor de redação que ministra suas aulas virtualmente. A câmera, sempre desligada, está assim por um motivo: sua condição física é de uma obesidade severa, que o limita de afazeres simples como andar pela casa, sentar e levantar. Enfrentando problemas graves de saúde, Charlie busca se reaproximar de sua filha, Ellie (Sadie Sink, a Max de Stranger Things), após anos de afastamento.
A Baleia: ótimo elenco e desempenho no Oscar
Darren Aronofsky mostrando um pai tentando se reconectar à filha já aconteceu em 2008 em O Lutador (The Wrestler), assim como o protagonista da época (Mickey Rourke) também era um ator cujo melhores dias de profissão estavam para trás. No entanto, é importante frisar que as diferenças entre os filmes são significativas muito pela condição de Charlie, uma espécie de prisioneiro da casa na qual vive. O diretor de fotografia, Matthew Libatique (Mãe!, Cisne Negro) , captura cenas dentro da casa em 99,9% das vezes, reforçando assim toda a solidão, culpa e outros sentimentos do personagem.

É seguro afirmar que este será um dos papeis mais lembrados na carreira de Brendan Fraser a partir daqui, tamanha foi sua entrega, tornando assim a sua premiação com o Oscar de Melhor Ator em 2023 algo mais do que justificado. Ter superado problemas pessoais como assédio no início dos anos 2000 e cirurgias por desgaste físico devido aos filmes de ação tornou esse feito ainda maior.
Sadie Sink se encaixou muito bem como filha de Charlie, e mostrar uma jovem amargurada pela negligência dos pais pode parecer algo simples a princípio, mas a atriz faz isso com uma forte carga de emoção, se mostrando vulnerável em momentos estratégicos para o roteiro. Outro destaque no casting vai para Hong Chau (Asteroid City) como Liz, uma enfermeira que visita Charlie para lhe prestar auxílio mas que possui um envolvimento com o protagonista maior do que o imaginado inicialmente. Correndo um pouco por fora está outro ator de A Baleia, Ty Simpkins como Thomas, um jovem missionário religioso em busca de converter o personagem principal dos seus pecados e de sua homossexualidade.
Clickbait ou A Baleia de Moby Dick (e a de Aronofsky)
Essa mistura entre componentes pode parecer não funcionar tão bem em alguns momentos, como os motivos para tanto destaque ao jovem missionário ou mesmo o uso de Moby Dick (romance escrito por Herman Melville lançado em 1851) mas com a devida fé nas habilidades de Darren Aronofsky tudo se encaixa no final.
O título por si só já representa esse jogo do que podemos esperar ao optar por ver o filme de um personagem com severa obesidade cujo título é A Baleia, um dos apelidos mais apreciados por babacas imbecis no momento de zombar a respeito do peso ou forma física de alguém.
Assim, a forma como o diretor de A Baleia (a partir da peça The Whale, de Samuel D. Hunter, que assina o roteiro) relaciona Moby Dick e a situação de Charlie junto às pessoas ao seu redor é digna de aplausos. Agora, já fora dos cinemas, sua atual opção é conferir A Baleia na Netflix, mas não sabemos exatamente até quando o longa estará disponível no serviço. Sendo assim, não perca o seu tempo.