Parthenope é uma obra que oscila entre a tentativa de retratar a beleza e a luxúria italiana e uma narrativa que se perde em sua própria indecisão. Dirigido por Paolo Sorrentino, o longa acaba se tornando uma caricatura do que poderia ser uma reflexão profunda sobre a juventude, o desejo e a ascensão social, mas falha em entregar uma mensagem coesa. No final, o filme se vende como uma leitura superficial de uma jovem que não sabe o que quer da vida além de ser desejada, o que pode ofender ou, paradoxalmente, até mesmo impulsionar o turismo em Nápoles, cidade onde a trama se passa.
A direção de Sorrentino é marcada por um excesso de preocupação estética. Cada plano parece ter sido meticulosamente pensado para exibir cenários deslumbrantes, iluminação impecável e paisagens que mais parecem cartões-postais. No entanto, essa obsessão pela beleza visual acaba por esvaziar a narrativa. As falas existem, o drama está lá, e os sentimentos que deveriam ser transmitidos — medo, raiva, desejo e, principalmente, autopiedade — estão presentes. Mas, no fim, o que fica é a sensação de que o diretor estava mais interessado em mostrar o quão bonito tudo poderia ser do que em contar uma história verdadeiramente impactante.
O roteiro, por sua vez, parece ter sofrido de uma crise de identidade durante a produção. Há indícios de que a intenção inicial era abordar temas mais densos, como a sexualidade na juventude e as dificuldades da ascensão social, especialmente quando se cai em desgraça. No entanto, o texto não consegue sustentar essa ambição. Os cenários, muitas vezes, não condizem com o peso das cenas, e a produção parece ter ignorado essa desconexão, optando por manter tudo no corte final. Apesar disso, o filme consegue amarrar suas pontas soltas ao longo do tempo, deixando um gosto docinho na boca, mas nada além disso.

A fotografia, por outro lado, é o ponto alto de “Parthenope”. É possível que grande parte do orçamento do filme tenha sido investido em equipamentos de alta qualidade, como lentes macro e câmeras de última geração. A luz é deslumbrante, tudo parece palpável, e a mistura entre fotografia e direção de arte é impecável. Nápoles nos anos 70 ganha vida de forma vívida, com cada reflexo de água, cada raio de luz entre as casas e cada mudança de estação sendo retratada com uma beleza quase palpável. A cor do filme é um espetáculo à parte, mas, infelizmente, isso não é suficiente para salvar a narrativa.
O filme parece estar sempre muito quente, muito fogoso, a qualquer momento pode saltar para uma cena sensual, como um jumpscare, e isso é muito bem construído. No entanto, essa técnica se repete tantas vezes que o espectador acaba se conformando com a ideia de que nada de fato acontecerá — até que, do nada, a cena finalmente surge, trazendo um alívio momentâneo. A protagonista, interpretada por Celeste Dalla Porta, é retratada como uma narcisista mimada e prepotente, que usa sua beleza e charme a seu favor. A atriz entrega uma performance convincente, embora, em alguns momentos, pareça que ela só acabou de derrubar o elefante de porcelana da mãe na sala.
No final, “Parthenope” consegue construir uma narrativa sobre ego e egoísmo, estabelecendo uma diferença gritante entre os dois conceitos. A protagonista não precisa de um para ter o outro, e essa é, talvez, a mensagem mais interessante do filme. A obra impressiona por sua beleza visual, mas se prende demais a isso, negligenciando o potencial do texto. É provável que o novo longa de Sorrentino se torne um objeto de estudo para aspirantes a cineastas e fotógrafos, mas dificilmente será lembrado por sua profundidade narrativa. Assisti-lo novamente pode ser uma experiência válida para apreciar sua estética e colher dicas de planos, mas não espere muito mais do que isso.
Por Allana Félix.