Quase dez anos depois, Ben Affleck retorna como Christian Wolff para desvendar o mistério por trás da morte de um velho conhecido em O Contador 2. Felizmente, além do retorno do diretor Gavin O’Connor e do roteirista Bill Dubuque, a continuação também traz de volta Brax, vivido por Jon Bernthal — que, de longe, é um dos personagens mais interessantes deste universo.
Com a mesma equipe criativa do primeiro filme, fiquei me perguntando se a sequência conseguiria ser mais envolvente que o original, e que nova história poderia ser contada com Wolff. “O Contador 2” entrega um suspense que sabe instigar o público sobre o que está, de fato, acontecendo. Ao lado da Diretora Adjunta do Tesouro Americano, Marybeth Medina, vivida por Cynthia Addai-Robinson, Christian e Brax entram em uma dinâmica que brilha principalmente quando explora a relação entre os irmãos, sem deixar de lado o mistério central envolvendo a morte de Ray King (J.K. Simmons).
Ao contrário do longa anterior, Gavin O’Connor e Bill Dubuque não perdem muito tempo em trazer Brax para a trama e só há ganhos com isso. Muito disso vem da atuação de Jon Bernthal, que de um jeito irreverente se relaciona com Christian de uma maneira que nenhum outro consegue. Ainda há muitas incógnitas sobre o passado dos dois, principalmente sobre o que aconteceu para que eles chegassem onde estão hoje: exímios revolvedores de problemas através da morte.
Diferentemente do longa anterior, Gavin O’Connor e Bill Dubuque não demoram a colocar Brax na trama — e isso só traz ganhos. Grande parte disso se deve à atuação carismática e irreverente de Jon Bernthal, que tem uma química única com Affleck. Brax é bom no que faz e isso fica claro desde o primeiro filme – além disso, Bernthal mistura seu jeito sisudo e cheio de bom humor, o que deixa as cenas com seu irmão melhores a cada instante. Ainda pairam várias perguntas sobre o passado dos dois, principalmente o que os levou a se tornarem exímios “resolvedores de problemas” através da violência e do crime.

O Contador 2 supera o original?
Ao contrário do recente Operação Vingança (leia a crítica), onde o personagem de Rami Malek tenta alcançar seus objetivos fugindo da CIA, aqui temos uma equipe com habilidades complementares: Medina com seus contatos federais, Christian com sua genialidade numérica (embora com a ajuda de um artifício de roteiro um tanto forçado), e Brax com sua destreza em combate — algo que seu irmão também domina muito bem. A ação do filme é pontual, e não há grandes cenas nesse quesito que façam “O Contador 2” ser memorável. Por mim, tudo bem.
A ausência da contadora vivida por Anna Kendrick, que coestrelou o primeiro filme ao lado de Affleck, abre espaço para que Brax e Medina ganhem mais protagonismo. Além deles, temos ainda a presença da assassina interpretada por Daniela Pineda, uma personagem interessante e com potencial, mas que parece não ter concluído toda a sua história. Ela tem a Síndrome de Savant adquirida — uma condição rara que pode surgir após uma lesão cerebral ou doença neurológica, permitindo o desenvolvimento de habilidades extraordinárias. É possível que o filme use isso como uma sugestão indireta de que Wolff também possa ter a mesma condição, reforçando sua genialidade com os números.
No entanto, essa visão de que o autista é sempre um gênio superdotado — muitas vezes com habilidades excepcionais em tecnologia ou lógica — me incomoda. “O Contador 2” recorre novamente a essa ideia esdrúxula, com a presença de uma instituição que abriga jovens no espectro autista, como uma espécie de “base de dados” para Christian.
Há uma clara intenção de deixar espaço para um possível terceiro capítulo, talvez aprofundando o passado de Wolff e Brax, ou até trazendo de volta a personagem de Pineda. Seja qual for o caminho, o trio principal termina “O Contador 2” com o que buscava desde o início: uma boa cadeira, um bom lugar para ficar — e a companhia de um pet.