Há algo em Operação Vingança (“The Amateur”) que o espectador mais atento já espera: ver Rami Malek (re)interpretar um personagem com uma certa dificuldade de interação social. Na minha visão, ele traz um pouco do Elliot, de “Mr. Robot”, em praticamente todas as suas atuações. E se isso é ruim? Vai depender de quem assiste. Pra mim, não é.
Em “Operação Vingança”, Malek interpreta Charlie Heller, um brilhante e introvertido analista de decodificação da CIA. Casado com Sarah, vivida pela nova Lois Lane Rachel Brosnahan, sua vida se transforma em um pesadelo quando sua esposa é morta em um atentado terrorista. Obstinado a encontrar os responsáveis, Charlie decide, após a recusa de seus superiores em agir, buscar vingança por conta própria.
Desde os primeiros minutos, o diretor britânico James Hawes (“Slow Horses”, “Doctor Who”) estabelece que Charlie não é alguém violento — sua maior arma será a inteligência. De fato, Hawes mostra, logo no início, como o protagonista é focado em seu trabalho e que, se puder evitar o confronto direto, evitará. Depois, vemos como ele usa sua sagacidade para enganar até mesmo seus colegas da CIA.
O personagem de Rami Malek está longe de ser metódico e preciso como Christian Wolff (Ben Affleck) em “O Contador”, ou um assassino frio e habilidoso como Michael Fassbender em “O Assassino” ou Eddie Redmayne na série “O Dia Do Chacal”. Pelo contrário, Charlie está longe de ser um assassino. O agente Henderson (Laurence Fishburne) aparece não apenas para reforçar isso durante um treinamento especial, mas também para introduzir um suspense sobre o quanto Charlie está disposto a ir em sua busca por vingança.

De fato, “Operação Vingança” transita muito mais pelo suspense do que pela ação. Diferente de outros filmes que misturam vingança com ação frenética — como a franquia “Bourne”, “Munique” ou “The Killer – O Matador” —, a direção de Hawes não busca criar momentos memoráveis de adrenalina, mas também evita que a trama se torne entediante, ao lidar com um protagonista incomum, mas esperto. Quando Charlie deixa os Estados Unidos, após enganar seus superiores, o filme entra em um típico “modo viagem pela Europa”, com passagens rápidas e práticas entre pontos A e B, como já vimos em tantos filmes de espionagem.
No fim de sua jornada de vingança, onde Charlie acaba tirando algumas vidas (direta ou indiretamente), o personagem de Michael Stuhlbarg chega a questioná-lo sobre o quanto ele se tornou sádico sem perceber. Ainda assim, senti certa ausência da faceta mais explorada no título original: “The Amateur”.
Há uma cena específica em “Operação Vingança” que Charlie tenta arrombar um apartamento usando um vídeo do YouTube como guia. Suando, tremendo e respirando de forma descompassada, Malek entrega um personagem que se encaixa perfeitamente nesse momento de ação e suspense: um completo amador. É algo diferente, mas que remete a sua atuação como um assassino perigoso em “007 – Sem Tempo para Morrer”.
Vale a pena assistir Operação Vingança?
Como dito, o filme não é ruim. O roteiro da dupla Ken Nolan e Gary Spinelli, baseado no livro de Robert Littell, apresenta boas ideias — que talvez funcionassem melhor em formato de minissérie. Mesmo inserido em um universo já saturado de tramas de espionagem no cinema e na TV, o filme se destaca pelo bom elenco de apoio. Dito isso, não acredito que “Operação Vingança”, com estreia marcada para o dia 10 de abril, será um sucesso de bilheteria — mas no streaming, pode encontrar um público fiel e ganhar sobrevida.