O Bom Professor é uma produção francesa que aborda a situação de Julien (François Civil), um professor correto e esforçado que, por fazer certas interações inapropriadas, é acusado de assédio por uma jovem aluna. Essas interações inapropriadas são situações banais, como olhares ou elogios à garota, mas ela não os interpreta como algo comum.
O filme deixa claro que o professor é inocente desde o início — ou, pelo menos, assume essa posição. No entanto, ele tem que enfrentar duríssimas represálias no sistema educacional, crises com seu parceiro — por ele ser homossexual, inclusive, o que parece contar pontos a seu favor, mesmo que não seja assumidamente — e até uma ameaça de morte por parte do irmão da garota.
Perdendo o controle, o professor assume uma postura duríssima em sala de aula, buscando respeito. Mas isso só gera mais insubordinação, o que abala ainda mais seu equilíbrio emocional. Buscando apoio jurídico, ele esbarra nas barreiras do sistema educacional e até na falta de ajuda de seus colegas para acessar o fundo coletivo. Graças ao seu parceiro, que consegue um emprego, ele obtém renda para contratar um advogado.

“O Bom Professor” é bem-sucedido em criar um drama em torno de uma situação injusta, mas também gera uma reflexão incômoda. Em um caso como esse, em que a vítima se comporta de maneira não confiável, será que isso serve como parâmetro para a enorme série de crimes sexuais que acontecem todos os dias, principalmente contra crianças e adolescentes? Será justo culpabilizar a vítima? Mesmo no contexto narrativo, que certamente se coloca ao lado do professor, será que ele mesmo não se expôs a uma situação imprópria? O filme, mesmo com toda a liberdade criativa, talvez não esteja cumprindo o papel social nesse debate, pois trata de uma exceção raríssima, até mesmo questionável.
Além da questão central, a relação de poder do professor com a sala de aula é algo que chama atenção. Entre o excesso de liberdade para os alunos, que gera indisciplina, e a rigidez que faz com que a turma perca o interesse, parece uma questão que não está presente apenas nas escolas do subúrbio da França, mas em muitos países. Esse paralelo pode ser visto até nas escolas públicas do Brasil.
De certo, as vítimas de assédio sexual devem ser ouvidas e acolhidas. O acusado também deve ser escutado, mas existe uma ordem de prioridade entre a vítima e o “possível” agressor. No mais, “O Bom Professor” apresenta um final insosso e inconcludente, mas abre um caminho para um debate mais crítico.
Por Hélio Mesquita.