Criaturas do Farol (Beacon), filme de 2024 disponível na MAX Criaturas do Farol (Beacon), filme de 2024 disponível na MAX

Criaturas do Farol: podemos devolver a oferenda ao mar?

Tem chamado a atenção nos últimos dias, dentre os mais vistos entre os filmes da Max, o longa Criaturas do Farol (Beacon, 2024), dirigido por Roxy Shih a partir do roteiro de Julio Rojas. O que aparenta ser um honesto thriller com pitadas de horror cósmico, no entanto, acabou deixando uma porção de espectadores a ver navios (me perdoem o trocadilho), uma vez que a melhor forma de terminar um grande mistério é deixando subjetividades para a dedução de quem assiste, correto? Te respondo isso, no caso específico desta obra, no final desta crítica.

A trama se inicia com Emily Reza (Julia Goldani Telles), uma jovem em busca de realizar o sonho de dar a volta ao mundo a bordo do seu veleiro, chamado Wind Dancer. Após uma série de contratempos, ela vai parar num farol de difícil acesso, ficando aos cuidados de Ismael (Demián Bichir), um homem responsável pela manutenção do local.

Sinto muito, mas você chegou ao farol errado

A temática marítima, o elenco mais do que enxuto e a ambientação um tanto claustrofóbica pode levar quem assiste a pensar que se trata de uma obra do nível de O Farol, filmaço de Robert Eggers, diretor que recentemente trouxe uma nova versão de Nosferatu aos cinemas. Infelizmente não é o caso, e o produto entregue não passa de uma fita de uma hora e meia de várias tentativas sem resultado. A dupla de atores (principalmente Julia) não convence em seus personagens, a ambientação é preguiçosa (mesmo dando o desconto por se tratar de uma produção de baixo orçamento) e as inspirações do roteiro carecem do devido desenvolvimento, ainda que haja pílulas de qualidade aqui e acolá.

Criaturas do Farol (Beacon), filme de 2024 disponível na MAX
Créditos da imagem: MAX / Divulgação

O cerne da narrativa é trazer a dúvida sobre em quem podemos confiar quando, a partir de diversas evidências, tudo leva a crer que Ismael é um doido solitário em busca de garantir a permanência de Emily a todo custo na ilha, enquanto a jovem quer urgentemente ver sua família após o acidente sofrido. Até então, a impressão é de que Beacon nada mais é do que um manjado thriller que nos levará a mares já conhecidos. Mas não.

Tanto o desfecho quanto tudo que vem no segundo ato são a tentativa da direção e roteiro em tentar mostrar algo diferente, inserindo elementos mitológicos que partem do zero e chegam a lugar algum. Há diversas referências que podem te divertir caso queira caçar easter-eggs: Moby Dick de Herman Melville com o nome do guardião da ilha, Ismael; a punição divina do deus dos mares, Netuno; as sereias da Odisseia, de Homero; e por aí vai.

Afinal, vale à pena conferir Criaturas do Farol?

Respondendo àquela pergunta inicial, a resposta é: depende. Uma coisa é você terminar uma narrativa encaixando diversas pontas soltas para no final entregar de bandeja um elemento de explodir a cabeça do espectador, como bem fez David Fincher em Se7en – Os Sete Crimes Capitais (1995) e Christopher Nolan em Amnésia (2000), para citar trabalhos de início de carreira de grandes diretores. O que ocorre em Beacon é léguas longe disso, pois a diretora acaba apenas terceirizando a quem assiste Criaturas do Farol o trabalho de concluir a sua obra, sem ter dado ao espectador as devidas ferramentas e elementos.