Val Kilmer Val Kilmer

Val Kilmer morre aos 65 anos

O mundo do cinema perdeu nesta terça-feira um de seus talentos mais versáteis e intensos. Val Kilmer, o ator que marcou gerações como Iceman em “Top Gun”, Jim Morrison em “The Doors” e Batman em “Batman Eternamente”, faleceu em Los Angeles aos 65 anos, vítima de complicações de uma pneumonia após anos de batalha contra um câncer de garganta. A notícia foi confirmada por sua filha, Mercedes Kilmer, ao The New York Times.

Nascido em Los Angeles e criado em Chatsworth, Val Kilmer traçou um caminho singular no cinema americano. Sua carreira decolou após se formar na prestigiada Juilliard School e atuar ao lado de Sean Penn e Kevin Bacon na peça off-Broadway “The Slab Boys”. Seu primeiro papel na TV foi no especial educativo “One Too Many”, dividindo cenas com Michelle Pfeiffer.

O ator conquistou aclamação crítica por sua transformação radical em “The Doors” (1991), onde não apenas interpretou Jim Morrison, mas viveu o personagem por quase um ano, vestindo suas roupas e dominando cada nuance de sua personalidade. Roger Ebert destacou: “A performance é a melhor coisa no filme – e como quase toda cena gira em torno de Morrison, isso não é um elogio menor”.

Nos anos 1990, Kilmer alternou entre blockbusters como “Batman Eternamente” – onde substituiu Michael Keaton como o Homem-Morcego – e projetos pessoais como “Tombstone” (1993), no qual sua interpretação do tuberculoso e sarcástico Doc Holliday se tornou lendária. A frase “I’m your huckleberry” (do filme) daria título à sua autobiografia décadas depois.

Por trás das câmeras, Val Kilmer ganhou reputação de profissional exigente. As filmagens caóticas de “A Ilha do Dr. Moreau” (1996) renderam histórias de conflitos com Marlon Brando – que se recusava a sair do trailer – e com o diretor John Frankenheimer, que declarou jamais trabalhar com o ator novamente. Joel Schumacher, diretor de “Batman Eternamente”, chegou a descrevê-lo como “psicótico”.

Mesmo com os desafios, Kilmer manteve uma produção prolífica: desde o western “Coração de Trovão” (1992) até sua participação como Elvis em “Amor à Queima-Roupa” (1993). Nos anos 2000, destacou-se em “Kiss Kiss Bang Bang” (2005) ao lado de Robert Downey Jr. e em “Boneco de Neve” (2017).

Val Kilmer recusou-se por anos a confirmar publicamente seu diagnóstico de câncer, revelado acidentalmente por Michael Douglas em 2016. Transformou sua paixão por Mark Twain em um aclamado one-man show, “Citizen Twain”, que misturava teatro e projeções. Como pintor, deixou obras que refletiam seu olhar único sobre o mundo.

O documentário “Val”, lançado recentemente no Prime Video, construído a partir de milhares de horas de filmagens caseiras que o ator acumulou durante décadas, revelou um artista introspectivo e profundamente dedicado ao seu ofício. Seu filho Jack emprestou a voz ao pai no filme, já que o câncer havia roubado a dele.

Val Kilmer deixa dois filhos – Mercedes e Jack – de seu casamento com a atriz Joanne Whalley, sua parceira em “Willow” (1988) e “Mate-me Outra Vez” (1989). Viveu por anos em um rancho no Novo México, onde promovia programas teatrais para jovens, antes de se mudar para Los Angeles nos últimos anos de vida.

Seu legado vai além das telas: um Grammy por sua narração em “Zorro”, a autobiografia best-seller, suas pinturas e, principalmente, as gerações de atores que inspirou com sua entrega absoluta a cada personagem. Como escreveu em suas memórias: “O palco, a tela – eram meus templos. E cada papel, uma oração”.

via Variety.