O renomado cineasta malinês Souleymane Cissé, um dos pioneiros do cinema africano, faleceu aos 84 anos. Sua filha, Mariam Cissé, confirmou a morte em uma clínica na capital, Bamako, expressando choque e luto pela perda de um homem que dedicou sua vida ao cinema e à arte. A causa do falecimento ainda não foi divulgada.
Cissé ganhou reconhecimento internacional em 1987, quando seu filme “Yeelen” (A Luz) conquistou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes, tornando-se o primeiro cineasta da África Subsaariana a vencer um prêmio no prestigiado evento. Sua carreira revolucionária durou mais de 50 anos, recebendo inúmeras homenagens e prêmios.
Em 2023, Cannes o homenageou com o Carrosse d’Or, concedido a diretores que marcaram a história do cinema com ousadia e rigor artístico. Além disso, Souleymane Cissé venceu por duas vezes o prêmio principal do Fespaco (Festival Pan-Africano de Cinema e Televisão de Ouagadougou).
No momento de sua morte, ele se preparava para viajar a Burkina Faso, onde presidira o júri do Fespaco, cuja abertura ocorre neste sábado.
Souleymane Cissé: uma voz do cinema africano
O impacto de Souleymane Cissé no cinema africano é imensurável. O ministro da Cultura do Mali, Mamou Daffé, lamentou a perda “desse monumento do cinema africano”, enquanto o também cineasta malinês Boubacar Sidibé afirmou que a indústria cinematográfica do país está de luto.
Seu primeiro longa-metragem, “Den Muso” (A Jovem), de 1975, foi um marco no cinema africano ao abordar a história de uma jovem violentada e rejeitada pela família. O filme foi proibido pelas autoridades malinesas, e Cissé chegou a ser preso por ter aceitado financiamento francês. Na prisão, escreveu o roteiro de seu segundo filme, “Baara” (Trabalho). Outras produções importantes incluem “Finyè” (O Vento), de 1981, e “Waati” (Tempo), de 1995.
Cissé estudou cinema em Moscou, tornando-se parte da primeira geração de cineastas africanos. Ao longo de sua vida, defendeu fortemente o apoio governamental e o investimento na indústria cinematográfica.
Foi fundador do sindicato dos empreendedores do cinema e artes audiovisuais da África Ocidental e criticava as barreiras para a expansão do cinema africano, condenando a censura e o desprezo pelo setor. Incentivava cineastas a buscar independência financeira, evitando depender exclusivamente de financiamento europeu.
Poucas horas antes de sua morte, ele fez um apelo ao governo militar do Mali para que ajudasse a fortalecer a indústria cinematográfica nacional. “Não basta fazer cinema, as obras precisam ser visíveis”, afirmou à AFP.
Seu legado permanece como um pilar fundamental do cinema africano e uma inspiração para gerações futuras de cineastas.
via BBC.