A Academia do Oscar em Hollywood enfrenta uma de suas maiores crises institucionais após a controvérsia gerada por sua resposta considerada insuficiente ao violento ataque contra Hamdan Ballal, co-diretor palestino do documentário Sem Chão, vencedor do Oscar de Melhor Documentário deste ano. A Deadline trouxe uma matéria sobre o caso, revelando que há profundas divisões entre a liderança da Academia e seus membros sobre o papel da instituição na defesa de artistas em situações de conflito político.
No último dia 24 de março, Ballal foi brutalmente atacado por israelenses armados na vila de Susiya, na Cisjordânia ocupada, enquanto se dirigia a um hospital para tratamento médico. Testemunhas relatam que, durante sua subsequente detenção por forças israelenses, os soldados chegaram a zombar de sua recente vitória no Oscar. O cineasta foi libertado no dia seguinte, mas o episódio permaneceu sem qualquer menção oficial da Academia do Oscar por dois dias críticos.
A resposta inicial da Academia do Oscar, emitida no último dia 26 de março pelos líderes Bill Kramer e Janet Yang, foi amplamente criticada por sua ambiguidade. O comunicado evitou mencionar explicitamente Ballal ou seu filme, limitando-se a uma vaga condenação de “violência contra artistas”. Essa postura gerou revolta imediata entre os membros da Academia – incluindo nomes como Joaquin Phoenix, Emma Thompson, Ava DuVernay e Jonathan Glazer, além dos brasileiros Alê Abreu, Alice Braga, Anna Muylaert, dentre outros votantes – assinando uma carta aberta que acusava a instituição de “falhar moralmente” ao não defender um de seus próprios premiados.
O documentário “Sem Chão”, codirigido por Ballal junto com dois cineastas israelenses, apresenta um olhar necessário sobre a vida dos palestinos na área de Masafer Yatta, onde comunidades inteiras enfrentam ordens de despejo para dar lugar a zonas de treinamento militar israelense. A vitória no Oscar havia sido celebrada como uma rara oportunidade para narrativas palestinas no cenário mundial – o que tornou o silêncio da Academia ainda mais chocante para os membros d votantes.
Essa crise coloca em xeque a política de “neutralidade” da Academia do Oscar em questões políticas sensíveis, especialmente quando confrontada com casos que envolvem aliados estratégicos dos EUA como Israel. Enquanto a instituição se reunia em sessão extraordinária para discutir o caso, muitos na indústria questionam se este será um momento decisivo para redefinir os limites entre arte e ativismo no coração de Hollywood. A pressão continua crescendo, com organizações como a European Film Academy e a International Documentary Association já tendo se manifestado publicamente em apoio a Ballal, aumentando o isolamento da Academia estadunidense em sua posição cautelosa.
via Deadline.