No subúrbio de uma cidade americana, vive uma família aparentemente comum: Os Radley. O pai é médico, a mãe é dona de casa e os filhos, Clara (Bo Bragason) e Rowan (Harry Baxendale), são estudantes. Tudo segue seu curso normal até que algo inesperado acontece.
Em uma festa ao ar livre, Clara Radley decide ir embora mais cedo. Stuart Harper, o atleta mais popular da escola, se oferece para acompanhá-la, alegando que a floresta no caminho poderia ser perigosa. Clara recusa veementemente e segue sozinha. No meio da mata, Harper reaparece e tenta violentá-la. Para a surpresa da jovem, suas presas crescem e um instinto assassino se manifesta, levando-a a drenar o sangue de Harper até a morte.
Desesperada, Clara liga para os pais, que chegam ao local e se deparam com a cena. Helen (Kelly Macdonald), a mãe, sugere se alimentar do sangue do garoto, mas Peter (Damian Lewis), o pai, insiste que devem resistir. Juntos, escondem o corpo e, então, revelam a verdade aos filhos: eles são vampiros. No entanto, não como os retratados na cultura popular. A condição vampírica é uma doença hereditária, e a família optou por viver como abstêmicos, evitando o sangue humano a todo custo. A partir desse momento, Clara e Rowan entram em um mundo de descobertas sobre sua verdadeira natureza, enquanto lidam com as consequências desse segredo. Para piorar, a rotina da família se desestabiliza ainda mais com a chegada do tio esquisito e libertino (também vivido por Damian Lewis), irmão de Peter, que vive em uma van e não segue as mesmas regras.

Como filme de vampiros, “Os Radley” tem uma proposta despretensiosa. Não há matanças gratuitas nem carnificina desenfreada; o foco está na dinâmica familiar e na relação dos personagens com sua condição. Mesmo as cenas de violência são justificadas pela trama, reforçando que os Radleys são um exemplo de dignidade e autocontrole, apesar da sede de sangue que carregam.
A direção de arte merece destaque pela sutileza com que trabalha a simbologia do desejo reprimido. A mesa da família Radley está sempre repleta de alimentos vermelhos, como uma tentativa de substituir o sangue humano e conter o impulso vampírico.
O roteiro segue a fórmula clássica das narrativas de aventura: os personagens passam por uma jornada e retornam transformados. No entanto, o filme peca ao não explorar nuances morais mais profundas. Os vampiros são retratados de forma muito “preto no branco” — ou são totalmente bons e abstêmios, ou entregues ao hedonismo. Essa abordagem impede um desenvolvimento mais complexo dos personagens e limita o potencial da história.
Em caráter de diversão, porém, é preciso admitir, “Os Radley” entrega algo bom. Sua simplicidade não compromete o entretenimento, e a experiência é agradável, especialmente para os fãs do gênero. É um filme sem grandes pretensões, entregando uma história envolvente e competente. Se está procurando algo leve e divertido para ver no sábado à noite, esse é uma boa escolha.
Por Hélio Mesquita.