Minhas Aventuras com o Superman Minhas Aventuras com o Superman

Minhas Aventuras com o Superman – 2ª temporada: entre o herói e o humano

Tanto a primeira quanto a segunda temporada de Minhas Aventuras com o Superman estão disponíveis no Brasil pela Max. Nos EUA, a série foi transmitida pelo Adult Swim, o que gerou expectativas de um conteúdo mais adulto, talvez semelhante a Invencível. No entanto, o que os espectadores encontraram foi algo mais juvenil, que, na minha opinião, cumpre bem seu propósito: ser uma comédia romântica que atrai até quem, como eu, conhece apenas os clichês do Superman — a roupa, a kriptonita, e o nome Clark Kent.

Um elemento que torna ainda mais interessante “Minhas Aventuras com o Superman” é o estilo adotado, que, apesar de ocidental, apresenta influências de animações japoneses. A transformação de Clark em Superman, evocando cenas à la Sailor Moon, é emblemática dessa abordagem e lembra produções como Avatar: A Lenda de Aang. Apesar de não alcançar a grandiosidade de Avatar, a série animada do kriptoniano se destaca por seus personagens carismáticos, humor leve e ritmo envolvente, tornando-o atraente para diferentes faixas etárias.

Na primeira temporada, acompanhamos Clark lidando sozinho com o peso de ser um alienígena muito mais poderoso que os humanos, compartilhando esse segredo apenas com os pais. Lois Lane é uma jovem repórter ambiciosa que vê no Superman a chance de emplacar uma matéria de impacto, sem saber que ele também é Clark, seu interesse amoroso. O trio principal é completado por Jimmy Olsen, melhor amigo de Clark, que, junto com Lois, ajuda o protagonista a perceber que não está sozinho. Mesmo sem poderes, eles provam que podem contribuir para salvar o mundo.

O romance entre Lois e Clark de forma cativante se desdobra em pontos importantes para a história. Há bons conflitos deixados para futuras temporadas, como a relação de Lois com seu pai, que decide romper com uma organização governamental para proteger a filha. Além disso, forças institucionais continuam a atrapalhar o trio, enquanto a presença de Brainiac adiciona um novo nível de ameaça, explorando o conflito interno de Clark em relação à solidão que sente por ser diferente.

Na segunda temporada, Clark começa a compreender melhor sua natureza e seu lugar no mundo. Ele conhece o pai, Jor-El, e aprende mais sobre Krypton, descobrindo que outra kryptoniana também sobreviveu: sua prima Kara, criada por Brainiac. Sentindo-se isolado pela desconfiança da humanidade e pela distância de seus amigos, Clark chama Kara, buscando companhia e apoio. No entanto, essa aproximação complica ainda mais sua relação com Lois, que enfrenta desafios típicos de um relacionamento, como inseguranças e dificuldades de comunicação.

Apesar de sua força física quase invencível, os conflitos internos de Clark o tornam vulnerável, criando empatia com o público. Nenhuma outra adaptação do Superman havia me causado esse impacto. A “Minhas Aventuras com o Superman” consegue atualizar o personagem para uma audiência contemporânea, respeitando seu legado e apresentando-o de forma atraente a uma nova geração.

Minhas Aventuras com o Superman
Créditos: Divulgação

Minhas Aventuras com o Superman e o peso de seus personagens

Fracamente, se existisse um Superman, eu também teria medo, assim como as pessoas que julgam Clark. Mas a narrativa da série é construída do ponto de vista dele e, dessa forma, mostra como as instituições sociais tendem a repelir o diferente. O Superman, mesmo lidando com o preconceito de alguns e com a perseguição do governo, permanece um defensor dos mais vulneráveis.

Sim, aqui isso é trabalhado de maneira mais ou menos abstrata, como X-Men faz em relação aos preconceitos contra mutantes — uma alegoria do sofrimento de grupos marginalizados, sem se agarrar a uma causa concreta, para agradar pessoas de diferentes espectros políticos. Além disso, a “Minhas Aventuras com o Superman” subverte a ideia do Superman como símbolo do governo norte-americano, mostrando-o como um opositor de regimes totalitários e experimentos antiéticos.

Essa lógica invertida em relação à história canônica do Homem de Aço é bem feita e, aliás, o Superman não consegue derrotar todos os vilões sozinho, fórmula que talvez não sirva mais nem para grande parte dos estadunidenses. Ele precisou da ajuda da população na primeira temporada, e de Kara para derrotar Brainiac na segunda. 

Um dos pontos altos desta temporada é a introdução de Kara, a Supergirl. Sua relação com Jimmy Olsen tem um desenvolvimento rápido, mas natural, e sua presença adiciona complexidade à história. Até quero ver mais deles na terceira temporada, que já está confirmada. Dividida entre agradar Brainiac e abraçar sua sensibilidade kryptoniana, Kara traz nuances interessantes, embora seu arco pudesse ser mais bem explorado. A mudança em sua mentalidade ocorre de forma um tanto apressada, mas isso não compromete a experiência para quem está mais focado na diversão.

A interação entre Kara e Clark é o ponto forte da temporada. A cena em que eles jogam beisebol com asteroides ilustra o conflito de perspectivas: enquanto Kara incentiva Clark a usar sua força sem restrições, ele permanece preso aos valores ensinados por seus pais adotivos. O final, em que jogam com uma bola real, simboliza a reconciliação e o acolhimento mútuo. Contudo, é uma resolução melancólica, pois Kara parece ter que se adaptar ao mundo humano, enquanto Clark não consegue se libertar completamente. Mas agora, um pode contar com o outro.

Reflexões inúteis à parte, o importante é que me diverti bastante com essa segunda temporada de “Minhas Aventuras com o Superman” e já espero ansiosa por sua continuação.