Sempre tive três critérios para colocar um ator ou atriz na minha prateleira de favoritos: saber fazer um bom vilão, um bom drama e uma boa comédia. Na minha filmografia pessoal de Robert Pattinson, só faltava o terceiro — apesar de ele já ter se aventurado em papéis cômicos antes. Pois bem, acho que agora essa lacuna foi preenchida com a chegada de Mickey 17, novo filme de Bong Joon-ho, diretor do premiado e aclamado “Parasita“.
O novo filme de Joon-ho marca sua incursão na ficção científica com um tom irreverente, carregado de absurdo e niilismo. A trama acompanha Mickey Barnes (Robert Pattinson), um homem que, para fugir de um agiota na Terra, se voluntaria para um programa espacial que exige dele um trabalho suicida — literalmente. Sua função envolve tarefas perigosas, algumas das quais o matam de propósito, mas sempre que isso acontece, uma cópia sua é criada com todas as suas memórias intactas, permitindo que ele continue o serviço. Tudo corre “bem” até que a 17ª versão de Mickey sobrevive a uma missão fatal e retorna à base apenas para descobrir que já há um Mickey 18. O problema? Multiplicidades são estritamente proibidas.

Pattinson encarna o protagonista como um sujeito retraído e vacilante, que se vê nesse ciclo infernal quase por acidente. O roteiro é baseado no livro “Mickey7”, e o grande trunfo do filme está tanto na atuação do protagonista quanto na premissa intrigante, que levanta questões existenciais pesadas: O que define a individualidade? O que significa morrer quando se pode continuar existindo? Há algum valor na experiência humana se ela for replicável ao infinito? E, talvez a mais angustiante: quem acorda na impressora — eu ou apenas uma cópia de mim? São dilemas que rondam o espectador durante toda a projeção.
O elenco de apoio também merece destaque, especialmente Mark Ruffalo, que interpreta um híbrido grotesco entre Donald Trump e Elon Musk, mas com um viés religioso ainda mais perturbador. Sua esposa, vivida por Toni Collette, brilha em cada cena que aparece.
Apesar de ser um filme fascinante, “Mickey 17” derrapa no terceiro ato. O desfecho parece apressado e assume um tom um tanto infantilóide, diluindo o impacto das questões filosóficas que vinha construindo. Ainda assim, é uma obra que diverte, provoca e intriga, garantindo um espaço entre os filmes mais instigantes do ano.
“Mickey 17” chega aos cinemas no dia 6 de março.
Por Lucas Freitas.