Jurado Nº 2, filme de 2024 dirigido por Clint Eastwood Jurado Nº 2, filme de 2024 dirigido por Clint Eastwood

Jurado Nº 2 e a moralidade da justiça dos EUA

Disponível na MAX, o mais novo longa de Clint Eastwood tem uma boa trama, elenco e final intrigante

Suspense e reflexões sobre filosofia do direito dão o tom de Jurado Nº 2 (Juror #2, 2024), o mais recente trabalho do veterano Clint Eastwood (Gran Torino, Sniper Americano), uma figura histórica no cinema tanto pela atuação quanto pela direção. Assim como em várias de suas obras anteriores, Eastwood opta por um final intencionalmente aberto, instigando o espectador a refletir – ou talvez irritando aqueles que preferem respostas claras e definitivas.

Com este filme, Clint parece buscar recriar a sensação que ele mesmo pode ter experimentado ao assistir, em 1957, ao clássico “12 Homens e Uma Sentença”, dirigido por Sidney Lumet. Ambas as produções abordam a justiça americana e como ela é percebida por seu próprio povo. No entanto, o roteiro de Jonathan A. Abrams, ainda pouco experiente em longas-metragens, não consegue unir todas as propostas de Eastwood de maneira coesa. Apesar de seu desfecho intrigante, “Jurado Nº 2” acaba deixando a desejar em alguns pontos.

Na trama, uma jovem mulher foi encontrada morta após uma discussão com o namorado em um bar e logo as suspeitas recaíram sobre seu parceiro. Justin Kemp (interpretado por Nicholas Hoult), por sua vez, é um dos selecionados para compor o júri do caso que irá decidir pela culpa ou absolvição do homem, mas claramente possui alguma relação com os acontecimentos da fatídica noite.

Jurado Nº 2 e as pessoas que compõem o júri no filme
Créditos da imagem: divulgação

O filme ressalta como negligências e interesses pessoais podem prejudicar a busca pela justiça. A polícia, partindo de um viés passional, ignora outros possíveis suspeitos; o advogado de defesa, preso em sua mediocridade e inveja, não representa adequadamente seu cliente; os jurados, influenciados por preconceitos e distrações cotidianas, deixam de se ater aos fatos; e a promotora de justiça prioriza suas ambições políticas, sacrificando a imparcialidade. Assim, o sistema se torna um palco onde as necessidades pessoais ofuscam o propósito de alcançar a verdade.

Jurado Nº 2 e seu final instigante

Com essa cadeia de negligências, fica até fácil para Kemp pintar e bordar ao longo do processo, sendo assombrado em alguns momentos pela culpa ou fazendo de tudo para sabotar a possibilidade de que se descubra o seu envolvimento no caso em julgamento. Nesse ponto, “Jurado Nº 2” até possui um aspecto cômico, pois a última das preocupações ali é com o que deveria ser o objeto principal, ficando ao sabor da montanha russa emocional que virou Kemp (prestes a se tornar pai enquanto sua parceira está numa gravidez de risco) as chances do réu.

Ao final (e tome aqui alguns spoilers), vemos Kemp aparentemente seguindo em frente, cuidando da esposa e do filho recém-nascido, até que a promotora Faith Killebrew (interpretada por Toni Collette) aparece em sua porta. O filme termina nesse ponto, deixando interpretações em aberto: seria essa visita um sinal de que a justiça finalmente chegou, ou apenas mais um espectro da culpa que assombrará Kemp para sempre?

Toni Collette e Nicholas Hoult em Jurado Nº 2, que conta com intrigante final
Créditos da imagem: divulgação

Há um frescor agradável no elenco do filme, que conta com nomes competentes e conhecidos além do protagonista, como é o caso de J. K. Simmons (Whiplash: Em Busca da Perfeição), Kiefer Sutherland (da série 24 Horas) e Gabriel Basso (da série O Agente Noturno). Porém, é Toni Collette (O Sexto Sentido, Hereditário), interpretando a promotora Faith Killebrew, a atriz a ganhar mais destaque em tela.

Mesmo não conseguindo emplacar algumas das propostas no roteiro, que deixa em falta a sustentação de certos aspectos como os preconceitos de alguns jurados e até mesmo a personagem de Collette, “Jurado Nº 2” é um ótimo longa de Clint Eastwood (atualmente disponível na MAX), principalmente para quem gosta de uma boa intriga envolvendo tribunais e direito penal. A referência ao clássico “12 Homens e Uma Sentença” reforça a importância de revisitar essa obra-prima de Sidney Lumet, indispensável para qualquer entusiasta do gênero.