Um filme genérico é frequentemente rotulado como uma obra sem identidade própria, que tenta replicar elementos de produções anteriores e mais famosas na tentativa de capturar o espectador por meio de tropos narrativos familiares. Por mais pejorativo que isso possa parecer, filmes genéricos ao menos são fiéis ao gênero que buscam reproduzir – o público sabe logo de cara se está diante de um filme de ação, terror, comédia ou romance. Entre Montanhas, novo lançamento do Apple TV+, tenta ser muitas coisas ao mesmo tempo – e falha em quase todas.
O filme desperdiça os talentos envolvidos, tanto atrás quanto na frente das câmeras. Considerando o histórico do diretor Scott Derrickson com obras de terror como O Telefone Preto e A Entidade, o público pode imaginar que “Entre Montanhas” seja mais uma incursão sua nesse gênero. No entanto, as constantes mudanças de tom tornam-se uma surpresa nem sempre bem-vinda. O thriller de espionagem divide espaço com o romance, a ficção científica e o horror em proporções bastante desiguais, prejudicando até mesmo os raros momentos de inspiração na direção e no roteiro assinado por Zach Dean.
A trama acompanha Levi (Miles Teller) e Drasa (Anya Taylor-Joy), que recebem uma missão inusitada: viver por um ano em torres isoladas próximas a um misterioso abismo. Duas regras precisam ser seguidas: o contato entre eles é proibido e nada pode sair do abismo. A premissa, inicialmente simples, nos conduz à rotina solitária dos protagonistas, com um foco maior em Levi. No entanto, não demora para que a primeira regra seja quebrada e a conexão entre os personagens se estabeleça. A partir desse ponto, o filme começa a se perder em sua própria ambição.
Num piscar de olhos Levi e Drasa começam a viver um romance digno de clipes musicais, com direito a troca de mensagens usando cartazes. Entre as cenas fofas, o longa trabalha um pouco os traumas e angústias dos personagens na tentativa de criar um vínculo com o público. Óbvio que a distância é um obstáculo a ser superado, num momento utilizado pelo roteiro para estabelecer uma nova mudança de gênero. Finalmente surge em tela o terror com o qual o diretor sabe trabalhar tão bem. O design de produção se destaca na ambientação do cenário novo e das criaturas que surgem em tela. Parece até que estamos dentro de fases de jogos de horror como Resident Evil ou Silent Hill.
Infelizmente, a essa altura, o filme já esgotou suas chances de causar uma boa impressão. O horror logo dá lugar à ação e a uma reviravolta pouco inspirada. Os atores também acabam prejudicados pela indecisão do roteiro. A química entre Miles Teller e Anya Taylor-Joy é praticamente inexistente, e embora ela se esforce para dar credibilidade ao relacionamento e aos desafios enfrentados pelos personagens, o texto expositivo compromete seu desempenho.
Apesar da boa premissa, “Entre Montanhas” não aceita ser apenas mais um filme genérico. Ao tentar ser muitas coisas de uma vez esquece que, na maior parte do tempo, menos é mais.