Desconhecidos (Strange Darling, 2024) - filme de JT Mollner ganha crítica e final explicado Desconhecidos (Strange Darling, 2024) - filme de JT Mollner ganha crítica e final explicado

Desconhecidos: o amor machuca e deixa cicatrizes | Crítica

JT Mollner brinca com a estrutura narrativa para entregar uma experiência analógica com Strange Darling

Com a oferta infinita de produções tanto no streaming quanto nos cinemas, é natural que muitos filmes interessantes acabem passando batido no Brasil em relação ao lançamento original. Felizmente, a Paris Filmes abraçou Desconhecidos (Strange Darling, 2024), trazendo o segundo longa-metragem do diretor JT Mollner para o país visando o público do suspense / terror. Porém, mais do que uma produção trivial do gênero, o filme consegue colocar belas cenas e interessantes debates na mesa, que tentarei usar como objeto nessa crítica.

Na trama, temos um implacável homem perseguindo uma mulher, claramente com a intenção de matá-la, enquanto ela, mesmo ferida na natureza selvagem do Oregon, busca estar sempre um passo à frente do seu agressor para poder escapar num verdadeiro jogo de gato caçando rato.

Desconhecidos (Strange Darling, 2024) - filme de JT Mollner ganha crítica e final explicado
Créditos da imagem: Giovanni Ribisi

O coração de Desconhecidos

Muito do que Desconhecidos tem a oferecer é apoiado na estrutura narrativa caótica escolhida pelo diretor, tendo como editor Christopher Robin Bell (que trabalhou com Mollner em Criminosos e Anjos de 2016) para este projeto. Assim como você lê na sinopse e assiste a introdução na certeza de que Strange Darling vai contemplar diversas convenções dos thrillers com serial killers, o aviso de que a história se divide em seis capítulos automaticamente cria uma ideia de linearidade na cabeça do espectador, preparando-o assim para agradáveis surpresas. Deixando cada um no seu quadrado, é uma brincadeira que remete a Quentin Tarantino nos seus primórdios com Cães de Aluguel (1992) e Pulp Fiction (1994) – e digo isso ciente de que um milhão de filmes já lançou mão da narrativa não-linear… só estou chamando atenção, portanto, ao modo do diretor usar o recurso.

Mas já que decidi pisar em ovos citando Quentin Tarantino, outra ferramenta adorada e indispensável pelo diretor de Bastardos Inglórios (2009) é a câmera analógica, recurso ostentado por JT Mollner logo no início do filme, o que pode ser encarado como presunçoso por parte de quem assiste ou então um alento para os cinéfilos que torcem o nariz para as câmeras digitais. No meu caso, dando o benefício da dúvida ao diretor, encaro o aviso de que as cenas foram “todas filmadas em 35mm” como um convite para desfrutar o que há de bom vindo aí.

Sob a direção de fotografia do estreante na função Giovanni Ribisi (famoso ator que já participou de filmes como Avatar de 2009), as cenas realmente estão muito bem filmadas e o longa passa a possuir identidade própria logo de cara na eletrizante cena de perseguição inicial.

Quem é quem em Strange Darling

A melhor coisa de Desconhecidos acaba sendo, muito por benefício do roteiro assinado por Mollner, a dinâmica entre a dupla protagonista composta por The Demon (Kyle Gallner) e The Lady (Willa Fitzgerald). Gallner confere a seu personagem os atributos necessários para nos convencer tanto em relação ao aparente assassino em série quanto as posteriores reviravoltas no roteiro, enquanto o mesmo ocorre com Fitzgerald mas numa dose ainda maior, na qual se sobressai uma incrível atuação digna de competição com a scream queen Mia Goth, especialmente na caprichadíssima cena final do filme.

As viradas no roteiro, as músicas cantadas por Z Berg e todo o espetáculo visual credenciam Strange Darling a ser daqueles filmes a serem degustados e digeridos no cinema. Munido com boas ideias e ótimos profissionais para colocar tudo em prática, Desconhecidos busca quebrar convenções para entregar uma obra eletrizante. É como se JT Mollner adaptasse uma versão live-action dos mais assombrosos episódios de Tom & Jerry, no qual um psicopata pode interpretar de modo literal demais a música Love Hurts, composta por Boudleaux Bryant e eternizada na performance da banda escocesa Nazareth.