Sempre fui um grande crítico da empreitada da Disney em produzir live-actions de seus clássicos animados. Até hoje, nenhum dos longas anteriores foi além de mediano. Mas qual o motivo de refazer essas obras com atores famosos em vez de desenhos? Simplesmente para aproveitar a nostalgia em um produto facilmente vendável. Branca de Neve é, infelizmente, mais um exemplo que entra nessa categoria.
“Branca de Neve” reconta o clássico primeiro longa animado da Disney. A talentosa Rachel Zegler (Amor, Sublime Amor) interpreta a protagonista que dá nome ao título, enquanto a sionista e péssima atriz Gal Gadot (Mulher-Maravilha) vive a vilã Rainha Má. Andrew Burnap (Em Nome do Céu) assume o papel de Jonathan, um ladrão que substitui o Príncipe Encantado como par romântico clichê.
Em grande parte, o enredo segue a mesma história do filme original, mas com algumas mudanças para dar mais contexto e desenvolvimento ao mundo. O filme original, apesar de ser um esmero técnico para sua época, sempre teve uma das histórias menos interessantes dos clássicos da Disney. Aqui, vemos mais contexto para explicar cenas que são apenas narradas por texto na introdução da animação. A produção mostra os pais de Branca de Neve e como era o reino antes da Rainha Má assumir o controle. Isso ajuda a dar mais peso às ações, algo que a animação original não se preocupava em explorar. Na introdução, temos a única música nova realmente boa do filme, interpretada pela excelente Rachel Zegler.

Os problemas em Branca de Neve
No entanto, as qualidades param por aí. Este filme tinha a oportunidade de atualizar e melhorar uma história clássica, porém cheia de falhas e problemáticas de uma produção dos anos 30. Apesar de algumas atualizações e piadas envolvendo “príncipes encantados em cavalos brancos”, o roteiro é uma bagunça, e tudo o que é adicionado rapidamente se torna enfadonho e desinteressante. Situações como a captura de personagens e até a morte de Branca de Neve são resolvidas de forma simplista, tirando o peso dramático das cenas. Em uma cena de embate final, há toda uma preparação dos anões para invadir o castelo, mas, no final, eles não fazem nada.
Falando nos anões, gostei da decisão de torná-los personagens digitais, o que dá uma estranheza inicial, mas faz sentido no contexto fantástico. Houve até uma polêmica envolvendo Peter Dinklage, que criticou a Disney por usar pessoas com nanismo nos papéis. O filme tenta se redimir ao incluir um personagem com essa condição, que não faz parte dos sete anões. Infelizmente, a adição de mais personagens e subtramas acaba deixando os sete anões um pouco de lado, mesmo com um momento musical divertido que traz a clássica música “eu vou, eu vou…”. Os efeitos especiais e o visual seguem o padrão atual dos blockbusters, com destaque para os figurinos, especialmente os da Rainha Má. No entanto, Gal Gadot, apesar do figurino impactante, tem carisma de uma pedra e atua como uma atriz de “Velozes e Furiosos”. Se eu fosse ela, teria vergonha de tentar cantar no mesmo filme que Rachel Zegler.
“Branca de Neve” é mais um produto comercial quase completamente desprovido de toque artístico e de um motivo para existir. Um filme que pega uma história básica e não tem coragem ou criatividade para transformá-la em algo maior. Há um lampejo de luz ao mostrar como o povo sofre sob o domínio da rainha e como pode se unir por um bem maior, mas isso se perde em um clímax chato e desinteressante. O longa é marcado por decisões preguiçosas e rápidas, com pouco impacto. O pouco de felicidade que tirei do filme foi ver Rachel Zegler mostrando seus dotes de atriz e cantora. Gostaria de terminar dizendo que espero que a Disney pare com essas tentativas de live-actions, mas, em um mercado cada vez mais em crise, já há mais filmes desse tipo confirmados e outros a caminho. Credo.